Observava o meu esposo capinando
novamente o quintal, e não havia muito tempo que ele tinha feito à limpeza do
mato.
Sinto a aproximação de Ariel e fico atenta.
– Se o homem fosse tão
persistente como o capim na seara Crística, haveria muito mais canteiros
solidários. Mas o homem logo desiste após a semeadura com os primeiros rebentos
derrubados pelo vendaval das dificuldades. Ou não vendo de imediato o abrolhar
das sementes, logo se cansa buscando outro alfobre e de preferência terminado
no qual não precisa de seu esforço pessoal. Poucos são aqueles que diante das
agruras persiste e usa a enxada para afastar as pedras enquanto prepara a
terra.
– Como vemos isso acontecer em variados
seguimentos espiritualistas. – Comentei entristecida.
– Se o homem fosse mais capim do que enxada
tudo estaria resolvido. – Disse Ariel olhando o mato em volta em outros
terrenos.
– Como assim Ariel? – Perguntei sem entender
onde ele queria chegar.
– A enxada é o instrumento, o corpo físico do
homem. Tanto ela pode preparar a terra escavando covas para depositar as
sementes como ficar inerte e enferrujada. Ela pode afastar os calhaus, impulsionada por aqueles que acreditam na
leira, como empurrar mais as pedras para a mesma. Tudo dependerá da vontade que
quem a segura, mas já o capim não, ele só quer crescer e independente das
adversidades e das pedras.
Olhei
também os terrenos em volta da nossa casinha, sim havia muito mato. Como seria
bonito se cada um limpasse um pedacinho de terra e plantasse flores? Mas aqui
são casas de veraneio, quem iria perder seu tempo limpando os terrenos baldios?
Quando os donos das casas vêem aqui, só querem descansar, passear e curtir a
vida... É de certa forma fazemos o mesmo na Seara do Mestre, mas até quando a
caridade será como os terrenos baldios?
15 de janeiro de 06