– Veja o
córrego – Diz Ariel.
– Estou vendo. – Respondi sem muito interesse. Ele sentou-se em um
barranco e de repente materializou algumas folhas. – Vai escrever agora? –
Perguntei
– Não. – Respondeu ele todo enigmático. E começou a fazer dobras
no papel, até formar um barco. Terminou, e pegou mais papel e fez outro barco,
e mais outro e outro até eu contar mais de uma dezena.
– Qual a cor que você quer?
– Gosto do rosa. – Disse apontando o barquinho.
– Vamos colocá-los no córrego. Está vendo aquela curva lá, pois
não deve deixar que ele ultrapasse certo? Será que é capaz de conduzi-lo?
– É claro, qualquer criança pode fazê-lo. – E lá fui eu conduzindo
o barquinho de papel até chegar à curva e tira-lo da água sem deixar que
ultrapasse.
– Bravo! – Disse ele, e eu desconfiada pensei que ele estava
tirando onda com minha cara. Ariel voltou a perguntar. – Consegue com dois ou
três?
– É mole até com quatro.
– É? Tome mais três barquinhos e conduze-os até a curva sem
deixá-los ultrapassa-la.
– Tudo bem.
Ele colocou os
barquinhos na água e lá fui eu. O barco rosa tombou e endireitei rápido, o azul
bateu na pedra e começou afundar, o
verde encalhou nos galhos da margem e o amarelo? Cadê o amarelo?!
– Passou da curva, lá vai ele! – Ariel escangalhava de tanto rir,
e muito tempo depois conseguiu ficar sério. – Assim são com as pessoas e a vida
– disse ele. – Não se pode mudar o curso da vida e nem dirigir barcos alheios
senão sobrevém à própria queda. Cada um tem o seu leme e escolhe a própria
direção. Conscientize que, se o Mestre é o Farol e se estes quiserem se atirar
aos abrolhos o que podes fazer é apenas lamentar-se e seguir viagem.
Ariel pegou todos
os barquinhos e colocou em minhas mãos.
– A Luz Maior continua a nortear os ventos e em uma curva qualquer
dos barquinhos encontrarão o seu destino. Siga e consola-se!