4/27/2010

O Corpo Do Ego


ALMAS GÊMEAS



Sentei na pedra e fiquei mexendo com um galho a fogueira. Estava incomodada comigo, com tudo e remexer o carvão atiçando o fogo vendo as labaredas distraia minha mente. E era tudo que eu precisava distrair a mente, bah! Até parece que não fiz isso por quatro anos, não distrai a mente, mas fugir dos labirintos dela. 

Sim queria distrair como a maioria faz, e sem a mínima consciência disso, e dizer: eu curto a vida, eu vivo! 

Mas não, eu não fui distrair a mente, eu fui buscar as rédeas dela, eu fui derrubar a casa que outros construíram para ela, eu fui derrubar os muros em torno dela, eu fui olhar nos espelhos dela, eu fui ver o que a autopreservação, o Ego me ocultava. E foram tantos os “demônios” tantos os “monstros” que deparei que foi difícil me manter ligada. 

Poderia ter buscado outros meios de fuga, bebida, drogas, compras, fazer amor ou melhor sexo, cair nas malhas de maya do mundo que ela nos oferece. Buscar baladas, a alma gêmea, alma gêmea?!! Caso reparou que as almas gêmeas sempre são mais para um Brad Pitt ou para uma Angelina Jolie? Nunca nossa cara metade é gordo, velho ou careca ou a nossa cara metade feminina. 

Até nas regressões nunca somos escravos, índios, plebeus, sempre somos reis, rainhas, sacerdotes, sacerdotisas. Engraçado isso até nisso a maya tem domínio sobre o EGO. Mas é tão sutil que nem nos apercebemos como o nosso Ego é maquiavélico e embromador. 

E sabe por quê? 

É porque nós o alimentamos e fazemos vistas grossas. 

Voltando a alma gêmea, o nosso Ego aceita uma mãe, um pai, um irmão e irmã feia, feia que digo fora dos padrões de beleza estabelecido pela sociedade. Mas mulher, a nossa mulher ou homem, o nosso homem que vai fazer o tal amor esse ou essa não! Sim a nossa “alma gêmea” tem que ser perfeita, ou perfeito, musculoso, farta cabeleira, ela magrinha, ter bundão, peitos lindos. 

No meu meio familiar mesmo há uma pessoa que acha que encontrou sua “alma gêmea” e por não estar dentro do padrão de beleza levou um pontapé no traseiro após o ‘fazer amor” e foi para academia para ver se a ‘alma gêmea” dela ou seja, a pessoa que lhe deu um pontapé no traseiro reconheça, veja pelo corpo perfeito que está diante da ALMA GÊMEA! 

Por que não sentimos nossa tal alma gêmea como sentimos nossa mãe, nosso pai, nossos irmãos? 

Que pode não ser a pessoa mais bonita, não ter um corpo dentro dos padrões de beleza, mas que é a pessoa que amamos do jeitinho como é, por dentro e por fora. 

Mas caímos na malha fina não do leão, mas do EGO que controla o desejo, o sexo. Deseja-se uma Angelina Jolie e um Brad Pitt, mas não se deseja uma pessoa sem beleza corporal, não é verdade? Então não é bem assim que toca o tal reencontro de almas gêmeas e sim o reencontro de cara bonita e corpos, para satisfazer a carne. 

Quando só alimentamos a carne só temos o gozo vindo dela, não somos capazes de sentir além. Então se sente falta de sexo, falta de dinheiro, ou falta de mais um sapato, mais um vestido, mais uma gravata. Sentimos falta daquilo que vemos, tocamos e consumimos. Vamos consumir tudo, e viva a fisicalidade, a matéria! 

Perdão pela ironia, mas sei que aquele que leu até aqui pensa como eu, se fosse diferente teria parado ou saído do blog. 

Eu fico triste por essa pessoa que é de minha família de sangue, que deixa se ver como uma fruta comestível e que tem que ficar apetitosa para ser amada ou comida. 

Perdão pelas palavras, mas como coloquei ao lado falando que esse Blog não estou colocando glitter para não melindrar o ego de ninguém, estou falando o que é realidade sem enfeites do EGO. 

Se se ofender vai para o Blog mais ameno, onde mostra só coisas bonitas, sempre coisas e mais coisas. 

Mas continuando, se esta pessoa se visse como um Espírito encarnado que move um corpo que lhe foi concedido para passar por provas e expiações e não apenas um corpo para satisfação apenas física, esta pessoa iria se valorizar mais e perceber que sua “alma gêmea” jamais teria um pensamento semelhante a um ignorante. Porque a nossa alma gêmea, nada mais é que um Espírito que tem afinidade conosco, que vem na caminhada terrena por séculos. E essa afinidade não é vista pelos olhos carnais. 


Empurrava os gravetos e a fogueira levantava uma labareda alta, mas logo  voltava ao fogo manso. 
Como eu sentia ver aquela pessoa triste passando pelo tempo sem nenhuma luz no fim do túnel. Mas não podia fazer nada além de aconselhar, quem sabe um dia essa pessoa acordasse e buscasse uma razão real de viver que não fosse apoiada no outro.
 Quando delegamos a nossa felicidade, nossa tristeza ou alegria nas mãos dos outros nunca conseguiremos a estabilidade espiritual, sempre estaremos veneráveis a EGOS alheios.

 É assim que o EGO rege maya, olhe fora da janela, olhe os corpos indo e vindo, o que estão pensando? Quando falo da janela não é a janela dos carro, do busão ou do ap, é a janela da alma. Quem anima aqueles corpos? Altos, baixos, magros, gordos, brancos negros, serão apenas corpos? Corpos que tem seus corpos esculpidos por outros corpos em mãos que aprenderam usar os bisturis? Onde estão as facas e bisturis que modelam a mente, o EGO?
Lá fui eu empurrar os gravetos para a fogueira.
O EGO se divide em muitos monstros nos labirintos da mente, 
e quando adentramos com a luz eles se esgueiram assustados. Só há domínio 
onde há ignorância, se o esclarecimento se faz, acaba o medo e acabando o medo
 não há domínio.
Por que será que tenho falado tanto de EGO, de mente, de demônios,
 de sexo ultimamente, por que será?
O EGO é tal qual depararmos com espelhos, sim, espelho nossos, 
espelhos que colocaram em nós, espelhos que refletem o que está fora de nós, 
espelhos que em cacos machuca alguém ou voltados para nós nos machuca.
Ele muda conforme o ângulo, a luz, a distancia ou aproximação, a sombra. 
Ele muda conforme a nossa condição mental, emocional. E nem percebemos as 
mãos do EGO, porque não o identificamos em suas mil faces e corpos, só 
assim ele dominará sem darmos conta dele.
― “Escravo do espelho meu! Surge do espaço profundo e vem dizer;
 há no mundo mulher mais bela do que eu?” (Disney, 2001]
Quem não se lembra dessa famosa frase do desenho de Walt Disney?
 A bela Branca de Neve?
Ele mais do que ninguém retratou as faces e corpo do EGO em suas estórias infantis.
 E sabia que a verdadeira bruxa não era aquela velhinha nariguda, baixinha e gorda,
 que a verdadeira bruxa tinha um escravo no espelho, aquele que não se cansava 
de olhar, comer sua beleza com os olhos, ou com o que ele refletia. E a bruxa da 
Branca de Neve era bela, era esguia estava dentro dos padrões que alimentava
 o EGO. Sabia que para ganhar o coração do rei, pai de Branca de Neve tinha
 que conquistar os olhos dele, tinha que ser cordial aos olhos dele, 
complacente, agradável. Conquistando a confiança, conquistando o “amor” ele seria 
um fraco e assim ela sorrateiramente poderia agir e destruir seu bem maior, 
a Branca de Neve. Branca de Neve, nome estranho para retratar a pureza. 
Mas deve ser um nome ao acaso, como tantos acasos que vemos e não nos damos
 conta deles.
Que fique nas entrelinhas esse confronto cego e surdo, ilusão e realidade,
 amor e pureza, corpo e vaidade.
Pensamos que os contos de fada ficaram em nossa infância, na nossa inocência, 
mas erramos. Crescemos como protagonistas deles, trocando de personagens
 conforme o EGO, conforme a conveniência dele.
E vamos aprisionar Rapunzel na torre, dar a maça a Branca de Neve, estranho
 a maçã que a Eva recebeu de uma serpente volta inocentemente a cena,
 não sei por que vejo obra de Lilith novamente. Não disse que voltaríamos a ela?
 Como tudo está interligado e nem notamos. Esqueci de falar da Bela Adormecida
 na floresta, que dormirá para sempre, assim como nós quem sabe por que
 até o príncipe que poderia acordá-la dorme. Ele dorme na ilusão de maya
 fascinado pela bela bruxa do espelho. Espelho dos olhos, espelho da cobiça, 
espelho do desejo, espelho da carne. Sim, espelho que vê apenas o que a retina 
capta, e lá  vão eles na carruagem onde ele domina os cavalos, até a Cinderela 
envelhecer, a Branca de Neve e ser trocada quem sabe pelo Chapeuzinho Vermelho 
ou Alice no País das Maravilhas!
Aí vêm as meninas e meninos tão jovens sendo cobiçados, enganados 
dentro de suas casas pelo lobo mau que adentra pela porta cibernética.
- Deixou a fogueira apagar Lin? – Era Urih.
- Pois é nem percebi. – Ele foi juntando alguns tocos, paus e gravetos 
e começou a atiçar a brasa para acender novamente a fogueira.
Olhei para ele com todo resto de ternura que ainda tinha em mim, 
com o resto de “inocência”, mas com todo amor do meu ser que o cálice podia conter.
- Você é um guerreiro! – Disse beijando seus olhos
- Eu Lin? Mas eu cai muitas vezes, pensei mesmo em desistir
de seguir diante de tantas batalhas perdidas.
- Por isso te chamei de guerreiro não por ter caído ou pelas batalhas perdidas, c
hamei de guerreiro por não ter desistido.
- Então você é uma guerreira, não desistiu de seguir.
- É, acho que sou. Vamos?
- Sim vamos.
Descemos a montanha para o vale das sombras, 
mas não olhamos para trás, sabíamos que no alto estava ardendo o fogo devorador
e para não apagar bastava termos cuidado aqui embaixo.

Caminhantes